quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Bruxa de Blergh

by Betha M. Costa


Béthula era uma bruxa - como tantas outras - que vivia na montanha do Asco, no povoado de Blergh; que reza a lenda tinha esse nome devido seus habitantes serem muito enjoados, e, de nojo exclamarem a todo instante: blerrrrggghhh!…


A maga contava dois séculos de vida, mas mantinha na aparência o viço da juventude devido tratamento ortomolecular, alimentação balanceada e muita malhação. Morava numa casa de barro, janelas caiadas de branco, telhado de sapê em forma de chapéu pontudo, antena parabólica e chaminé por onde fugia o tempo todo fumaça achocolatada como resultado dos muitos feitiços.


O terreno da moradia ficava espremido entre duas mansões de astros excêntricos de Ideioúde. Era estreito como a mente de sua dona que nunca acertava mão nas magias que elaborava.


Apesar do Doutoramento em Magias Negras, Brancas e Coloridas em Geral, ler atentamente os Clássicos Bruxedais Mundiais e manter-se atualizada de tudo que acontecia no Universo Bruxal através da internet, ela era o desastre em forma de bruxa.


Ninguém levava a sério a destrambelhada personagem que encheu de prejuízos materiais e físicos seus potenciais clientes de mandingas: explodiu muitas residências, fez de outras abóboras coloridas. Transformou uma jovem obesa que queria emagrecer em elefantinha rosa com bolinhas amarelas. Muitos adolescentes de ambos os sexos que usaram sua poção para desaparecer espinhas conviveram o resto das suas vidas com enormes verrugas. Nem o *Dr.Ivo Pitanguy conseguiu removê-las, pois de onde uma era retirada nascia outras três ao redor.


Por falta de papel (gastaria resmas) ou espaço no **Word (minha máquina não tem tantos bits) fica impossível enumerar a quantidade de feitiçarias infelizes. Só posso dizer-lhes que a população queria Béthula o mais longe possível de si.


O desprezo das pessoas encheu de desgosto a feiticeira. Num impulso resolveu que faria de si a bruxa mais malvada deste e de todos os mundos.Consultou um papiro - que de tão velho e bolorento começava a desfazer-se - jogou os ingredientes maléficos no caldeirão borbulhante e pronunciou os dizeres mágicos:


- Puxa, puxa, puxa!…
Bate pau, pau, pau!…
Faça dessa boa bruxa,
Um ser muito mau!…E PLOFT: a pobre transformou-se numa imensa tigela de mingau…


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*Dr.Ivo Pitanguy - cirurgião plástico brasileiro. É referência mundial na especialidade.


**Word - processador de texto para computador
produzido pela Microsoft.

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