quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Dona Bruxa

by Betha M. Costa


Ela morava numa casa rosa-bebê, telhado vermelho-amora cercada por um imenso jardim bem no finalzinho da rua. A chaminé exalava fumaças coloridas encantadoras aos olhos e cheiros agradáveis aos narizes de toda gente do povoado. 


A meninada curiosa chegou a fazer várias visitas secretas ao jardim. Descobriram uma quantidade enorme de ervas e frutas. Levaram amostras para algumas senhoras da cidadezinha.Elas não souberam identificar seus nomes nem para que eram usadas; o que aumentou a curiosidade sobre “a mulher da casa da esquina” tanto em adultos (que a chamavam de A Bruxa) como nas crianças, que em tom mais respeitoso, chamavam-na de Dona Bruxa.


Os olhinhos curiosos da criançada voltaram-se para Dona Bruxa. Descobriram que era uma senhora alta, magra, idosa, que morava sozinha desde sempre naquele lugar.Tinha aparência tranqüila e vivia na companhia de uma gata cor marrom-chocolate, olhos amarelos-lua-cheia de nome Pandora. 


Pouco sociável, a mulher não saia de casa nem mantinha amizades com as pessoas do lugar. Recebia na porta e pagava na hora pão e leite que seu Antônio Padeiro enviava todas as manhãs. No início de cada mês, os mantimentos para sua sobrevivência eram entregues pelo Armazém de Seu Coriolano.Fora isso, tinha aquele furgão cinza-fumaça que de quinze em quinze dias vinha com homens vestidos de macacões verde-esperança-desbotada. Entravam na propriedade, deixavam umas caixas azuis-céus-do-amanhecer e saiam com outras caixas bem pesadas, vermelhas-nariz-de-palhaço. Colocavam tudo no carro e partiam como chegavam.


- Aquilo tudo era um grande mistério para um lugar tão pequeno e precisava ser desvendado, diziam as crianças entre si. Ficou decido: na próxima vez que viessem os homens, iam descobrir o que continham aquelas caixas... Sabe-se lá o que Dona Bruxa estava mandando nelas para fora da cidade!...


Na quinzena seguinte, quando o furgão parou na porta de Dona Bruxa, a meninada ficou de tocaia. Deixou entrarem as caixas azuis-céus-do-amanhecer... Quando começaram a trazer as vermelhas-nariz-de-palhaço, uma multidão de crianças cercou os homens. Assustados eles deixaram cair ao chão as caixas de onde espalharam-se na calçada da rua - aos lotes - compotas de frutas de muitos sabores, sabonetes, perfumes e cremes artesanais de ervas... Sim: Dona Bruxa era doceira e pequena empresária de cosméticos!

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