by Betha Mendonça
Canto pelo silêncio das engrenagens dentro da minha cabeça. Para
que parem, deem-me descanso e eu consiga dormir. As malditas não param. Sempre
se movendo com rangidos e apitos que colocam a trabalhar o velho cérebro, fábrica
de múltiplas ideias e sensações.
Ponho em músicas as imagens disformes que consomem meus
neurônios. Essas serpentes que se enrolam umas as outras, e, em vez de mediadores
químicos, lançam as mais diversas peçonhas. Elas embaralham e dão vozes aos pensamentos.
Espalham-se e desencadeiam por onde passam as torturas: taquicardias, sufocação
da respiração, ondas de gelos dentro dos vasos, toques da morte ao corpo como
se ela quisesse me levar.
Com a voz tremula executo Hinos de Igreja. Em meio aos
arrepios, ponho-me a andar e dizer orações. Através do canto tento exorcizar a
loucura. Temo que ela tome conta de mim. Eu perca a sanidade, e, deixe de saber
quem eu sou ou quem eu fui. Luto dia a dia no escuro com tal fantasma. Seus olhos
de gato, pelagem de espinhos e boca de infinito a querer tragar-me como se eu
fosse cachaça barata de um boteco qualquer...
Cantarolo na mente as cirandas de rodas da infância. Suas
letras espantavam os monstros debaixo da cama e do armário. Pena não ser mais
criança! Hoje os monstros vivem, clamam e brincam dentro de mim. Lugar muito mais difícil de espantá-los!
*Imagem by_inpha
Tudo se passa comigo assim também, é como se alguém gritasse para pôr ordem no caos e não resultasse, são labirintos com luzeiros onde se acendem faúlhas em desordem que são difíceis de controlar. Pena não ser mais criança. Gostei da prosa! bj.
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