terça-feira, 28 de setembro de 2010

Casal Pergaminho

by Betha M. Costa


Manhã ensolarada. O povo saudável andava, corria, fazia exercícios nas barras da praça. Rainha do sedentarismo - refestelada num banco a saborear um sorvete de cupuaçu - eu sentia cansaço só de ver o movimento frenético das pessoas dando mil voltas e suando em bicas.


Distraída com meus pensamentos conclui que aquele pessoal vai chegar longe e eu com minha preguiça com certeza viverei pouquíssimo. Foi então que avistei o casal. Ambos com os cabelos brancos. Pergaminho na pele a lhes denunciar idade avançada e contar histórias de tantos anos. Caminhavam devagar e de mãos dadas. Sentaram num banco próximo. O senhor comprou uma rosa vermelha e presenteou sua acompanhante que retribuiu o carinho com um sorriso seguido de um beijo. Aquela imagem me encantou. Esqueci o remorso de não seguir regras de boa saúde e voltei toda a minha atenção aos dois.


O par permaneceu sentado. Sem dizer palavra olhou-se por longo tempo. O brilho nos seus olhos sob as pálpebras caídas mostrava que eles entendiam um o que o outro pensava. A fala entre eles parecia desnecessária. Sorriram como duas crianças travessas, levantaram, deram-se as mãos e seguiram o seu trajeto.Uma moça notou que não eu desgrudava os olhos dos dois e comentou:


- Lindo, não é?


- É... É... Muito lindo!... Gaguejei desajeitada como criminosa pega em fragrante.. E sem que nada a ela eu perguntasse falou:


- Eles moram aqui perto. São casados há setenta e cinco anos. Têm até tetranetos, mas todas as manhãs de sol passeiam por aqui.


- Setenta e cinco anos... Repeti.


- Sim: setenta e cinco. Ih, meu filho está me chamando!Tchau!


- Tchau! Respondi vendo o casal se afastar de onde eu estava.


Senti-me uma ameba: não consegui segurar um casamento nem dezoito anos! E essa dupla junto à vida inteira... Convivendo e partilhando acertos e defeitos, alegrias e tristezas, sucessos e derrotas. Árvores frondosas - verdadeiros baobás - que não se curvaram ante as intempéries. O amor os manteve de pé e unidos a ponto de se darem ao luxo de serem felizes até hoje. Ai, quem me dera um amor assim!

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