sábado, 9 de outubro de 2010

A Casa da Vovó

by Betha M. Costa


A casa estava lá.Mais de dez anos sem visitá-la.Perdi o gosto após a morte dos meus avós.Tudo mudado: a sala do Relógio de Pêndulo do vovô virou extensão do pátio e apenas duas salas amplas fazem companhia à cozinha e quatro quartos enormes. 


Tenho a impressão que o corredor diminuiu.O quintal com certeza.Continua muito grande, mas uns vinte metros quadrados lá do fundo, onde ficava o criadouro dos animais da vovó foram vendidos para a vizinhança.Uma pena!Adorava ver as galinhas, patas e peruas zelando por seus filhotes.E a Casa do Choco, próxima a Casa Grande, é depósito de quinquilharias, sempre fechada.Nada da vovó pedindo pra gente deixar as bichinhas chocas quietas e não pegar os ovos sem permissão. 


O quintal imenso, antigo pomar onde a gente se deliciava com goiabas, abacates, mamões, bananas, jacas e outras frutas; é um gramado cercado aos lados pelas flores que mamãe plantou e abriga ao fundo um solitário abacateiro, muito jovem para dar frutos. 


Senti falta da vovó, seus passos rápidos e miúdos pelo corredor dando as ordens com sua voz de veludo.Aliás, não lembro dela falar alto nunca.Sempre sábia, não alterava o timbre da voz ainda que fosse dar uma bronca.Nem dava bronca: com olhos de quem tudo compreende aconselhava e desfazia com poucas palavras um comportamento negativo.Cheia de corpo, os cabelos brancos sempre penteados e mantidos com xampu cinza, unhas bem feitas e um perfume que nunca esquecerei.Tinha o abraço bem
aconchegante que só as avós sabem dar... 


O vovô não estava sentado na sua cadeira de balanço lendo na Sala do Relógio após o almoço quando voltava da loja.Era um cearense magro, cabelos brancos e ar austero.A austeridade era mais uma pose, porque nas conversas com a família, escutava-se na cozinha suas risadas inconfundíveis com as novidades e piadas contadas na sala. 


A casa estava lá.Não havia o vovô.Nem a vovó de manhã cedo mandava a Ana pegar na Casa do Choco os ovos para o café da manhã.Não havia o cheiro dos ovos sendo fritos, do café feitinho na hora, do leite de vaca fresco, do bolo e da presença amada da vovó.A casa não é mais da vovó.A casa é da mamãe, agora vovó para os nossos filhos; que correm pelo quintal jogando bola e pulam os muros dos vizinhos para “roubar” as frutas que não temos mais.


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Ps- A casa foi vendida e derrubada. Atualmente está sendo construído no local um empreendimento.Meu pais já são bisavós.

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