quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Viagem Insólita

by Betha M. Costa


Viajei dentro da minha cabeça. Com dificuldade atravessei couro cabeludo, músculos... Furei a caixa craniana, meninges e me perdi nos labirintos das circunvoluções do meu cérebro negligente, que retém o que não quero e me falta quando urgente.


Ao cheirar as flores do vaso sobre a mesa do necrotério das minhas lembranças, penetrei pelas narinas cabeludas, livrei-me do muco faríngeo e laringiano, ornei os dedos finos com os anéis da traquéia e dos pulmões - sem trocas gasosas - fui expelida em bafo quente pela boca.


Como nas pregações de menina ouvi que o mal é o que sai pela boca e não o que por ela entra, eu mastiguei com gosto os talos dos cravos e as pétalas das rosas, que desceram me queimando do esôfago ao estomago. Aí lembrei que depois de digerida ia passar para os intestinos e virar amontoado de fezes expelidas num vaso imundo qualquer. Imaginei a sensação desagradável que iria enfrentar... Assim, revirei o quanto pude os sucos digestivos até ser vomitada pelos meus sonhos de ontem

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