segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sincericídio

by Betha M. Costa


Tênue a linha entre a sinceridade e a falta de educação (ou grosseria). Muitas vezes o que dói na verdade que a gente não quer ver nem ouvir não é o dito, mas a entonação e palavras usadas para expressá-la.


Há pessoas que usam eufemismos, parábolas... Até metáforas bacanas, que lhe dizer que você é uma grandessíssima mala, egoísta, insensível, idiota, estúpida ou que seu trabalho é uma belíssima porcaria. Aí a coisa fica digerível. Você pode se chatear, porém percebe que recebeu um toque que vai lhe ajudar a crescer como ser humano.


Agora se além de todo o dito você for do tipo Gabriela: eu nasci assim, eu cresci assim vou ser sempre assim... E retrucar com a sutileza de uma manada de elefantes, vai distanciar muita gente legal da sua convivência que não é obrigada a aturar seus (mal) humores.


Também existem os impacientes. Os famosos "tolerância zero", que ao perceberem o menor erro ou deslize alheio caem de pau: em alto e claro português falam na sua cara aquelas coisas que você até sabe, mas odeia que os outros apontem. Aí o meio de campo embola: você solta todos os seus cães internos e ataca o sujeito até colocá-lo abaixo do chão. Se for do tipo calma, não diz uma palavra: vai até o feiticeiro mais próximo, manda ele fazer o boneco voodoo e o sujeito está ferrado para sempre.


Como dá para perceber, ser sincero depende da situação, local, intimidade e personalidade da pessoa a quem nos dirigimos e da nossa própria. Em nome da sinceridade, eu cometi nessa vida muito sincericídio, matei-me para muitas pessoas, perdi contato com gente até interessante e angariei um tantão assim de desafetos.


Hoje somente aos mais íntimos (e quando solicitada) emito opinião negativa. Se não gosto, acho errada uma atitude, feia uma roupa, porco um trabalho guardo para mim. Não elogio nem critico, por que já não há espaço no meu cemitério interior para eu me enterrar de tanto sincericídio cometido.

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