sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Carta de Despedida Número 02








by Betha Mendonça

Belém, 28 de dezembro de 2008.

Aproveito a mudança de ano para acenar adeus ao velho, desgastado, ultrapassado e todo o obsoleto dessa vida pequena e cotidiana. Adeus ao dia a dia com tom que vai do branco-pérola, passa pelo cinza-claro, prata e cai ao negro-poço-sem-fundo. Que se abra o leque do arco-íris depois que a chuva lava o céu dos sentidos e sentimentos da gente!

Até nunca ao ontem desvinculado de mim, e, ao amanhã que com o rasgar das folhinhas, será também arquivo-morto num canto de uma das minhas memórias.Tchau ao que me enche de bolor e dor por dentro e ao redor de mim! Chega de fungos parasitando meu corpo e sensações!

Livre do velho, eu quero ser antiga como as rochas moldadas pelos beijos das ondas do mar e dos fortes ventos. Anseio a beleza das falésias coloridas pelos movimentos dos raios do sol e das grandes tempestades.

Despeço-me do sal das lágrimas. Que me cure o salubre mar d’amores! Aparte-se o frio da alma solitária! Adeus ao bruxulear da eternidade ao coração dos que me amam ou amaram! Que eu seja um ponto escuro tão pequeno aos que me detestam que eles se esqueçam de mim.

Até nunca mais àquela ultima vez em que fui feliz de doer o peito de tanta felicidade, e, que foi há tanto tempo... Nem lembro mais quando!

Como despedida final eu lanço em pequeno barco ao rio: flores do silêncio, destino, desatino e os mistérios insondáveis das minhas recordações desse ano. Oferenda sem volta aos Deuses do Futuro, o barco singra as águas da Baía enquanto saúdo o Ano Novo com fogos de artifícios no céu...

B.



Nenhum comentário:

Postar um comentário