by Betha Mendonça
Não sou os incensos e mirra que roubei dos altares
e que espalho nos caminhos. Nem a luz dos vitrais com a Via Sacra, que clareiam
mentes de pensamentos escuros. Nem essas lágrimas miúdas, água benta aspergida
pelos frades, a espantar a loucura para qual não há cura: somente controle pela
fé e pílulas coloridas.
Eu não existia como sou hoje. Nunca mais serei como
já fui antes de tragar as nuvens e enxergar com olhos de insensatez que o
destino à gente doma. Ele toma outra feição quando se permite ao tempo riscar
as nossas escritas e as reescrever a cada dia em fábula diferente.
Agora vivo a liberdade das tardes, passos
sobre as sapatilhas, na dança de reaprender a cada dia. Sem os aplausos de mãos
e plateias que nada me dizem.
Antes de sair de cena eu não me conhecia como me
conheço. Não temia tanto a mim mesma e essa força de fazer de anjos tapetes. Sobre
eles caminhar sem dó para chegar aos céus. Nem da capacidade correr com pés nus
entre chamas, e, esmagar os demônios até encontrar o Senhor do Inferno.
De bater em Lúcifer até sangrar-lhe as escamas, para que me diga e
deixe-me encontrar o que procuro. No fim descobrir: sou uma pedra de sal desfeita
nalgum ponto entre o Éden e o Hades.
*Imagem Google
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