quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Circe

by Betha M. Costa


Noite em que a lua cheia é silhueta atrás de densas nuvens azuladas. Dessas propícias para ataques de lobisomens e vampiros. Para desenfreadas corridas de mulas-sem-cabeça, fantasmas e exorcismar demônios.


Na bruxuleante fogueira das vaidades, Circe, a feiticeira, foi julgada e condenada à morte pelos Priores.


Como de costume na aldeia, a mulher foi entregue nas mãos da turba furiosa. Incitada pelo Prior-mor foi espancada enquanto lhe vociferam escárnios de toda sorte. Alguns cuspiam outros lhe atiravam pequenas pedras.


Quando pronto o patíbulo no qual havia ao meio um tronco fincado nas entranhas da terra, a bruxa foi conduzida pelo carrasco. Ela subiu serenamente as escadas. Suas mãos, cintura e pés foram atados ao tronco, mas foi rejeitada a venda nos olhos.


A multidão delirava e ao comando do Prior-mor o carrasco acendeu a fogueira sob o palanque. As chamas se propagaram depressa e se postaram a devorar o corpo da condenada de quem não se ouviu um grito ou lamento.


Um tempo que ninguém sabe precisar quanto - desses que o silêncio de longe pode ser ouvido - o fogo apagou. Um amontoado de cinzas se avolumou no chão. Era acabado o espetáculo e quando o povo se dispersava, caiu uma chuva torrencial. As cinzas por ela banhadas se juntaram e aos poucos moldaram o corpo de Circe, que enorme Fênix renascida voou e devorou um a um os seus adversários.


Nenhum comentário:

Postar um comentário