quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

João Valentão

by Betha M. Costa


Nunca esqueci o João Carlos Salgado. Garoto corpulento, muito branco, rosto ferrugento de sardas e cabelos cor de fogo. Conhecido como João Valentão, era o terror da meninada da minha época.


Pouco criativo e de inteligência estreita, ele conseguia o que queria dos colegas com a força dos punhos. E que punhos! Até eu provei deles... Custou-me um olho roxo, (sempre tiver horror à agressão física) e não contei nem sob tortura aos meus pais e irmão o acontecido.


No fundo eu tinha pena dele. Recebia maus tratos do pai e da mãe devido sua atuação escolar que era abaixo da crítica. Seu boletim tinha tantas novas vermelhas que parecia estar sempre com sarampo. Apenas reproduzia com os do seu tope o tratamento que recebia. Coisas da vida...


Mas, crianças podem ser muito cruéis... E João Valentão tanto ameaçou bateu e extorquiu a garotada mais fraca fisicamente, que ficou entalado na garganta dos que tinham sido por ele pisado e provado da sua pesada mão. 


Meninos que não eram tão compreensivos quanto eu com a sua situação familiar desajustada rebelaram-se contra o Valentão. Reuniram-se em mais de dez, tocaiaram o obeso garoto e o agrediram com pancadas, socos, paus, pedras... Uma tragédia!Se não fosse uma senhora ver e gritar por socorro o pior teria acontecido...


João foi hospitalizado muito machucado. Os pais do agredido e dos agressores foram parar na polícia. Quando tudo se resolveu, o garoto saiu do hospital e mudou-se do bairro. Eu era muito pequena e não sei dizer com exatidão o que aconteceu, mas bem antes disso já sabia que a argumentação é sempre melhor que a força bruta.

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